12 de novembro de 2010

Já não são dias.



Tenho no bolso a poesia de um mundo irreal.
Conto-lhe histórias, ouço-lhe a respiração pausada, sonho-lhe os traços imortais...
E nesses pequenos rituais encontro a alquimia de uma infância de cor rosa.
Ou é a inocência de um pensamento ou a ternura no contemplar ou a ingenuidade na metafísica.

A poesia que me ocupa a algibeira não me deixou espaço para um mapa e dei por mim perdida nas contas que não fiz com o mundo real, oposto genuíno de uma poesia afável.
Digam que fui avisada do perigo inerente às cores com que pintei a história, digam que eu sabia de véspera para onde seguia a estrada, digam que sou eu quem caminha.
Já não é de hoje que as palavras me deixam a satisfação incompleta e nem de ontem é que a ingenuidade no amanhã pensado me deixa irrequieta e incomodada num compasso composto, sincopado.

O meu nome não era Alice mas eu achei que também combinava, pois que afinal as histórias de encantar não têm que ficar nos contos apenas, pois que afinal dizem que é assim que é.
O meu país nunca foi de maravilhas, mas eu achei que no futuro ia ser, pois que os sonhos não são só para sonhar, são para viver, para desejar, para querer...
O meu livro não começava por Anita, mas eu vi nele toda a melodia serena, toda a simplicidade encantadora, toda a magia terna que podia existir e que eu queria para mim.

Mas o bolso, repleto de uma composição poética inacreditável, pesa-me sem peso.
Deixa-me livre e acorrentada, num misto absurdo de pensamentos, de ambições, de indefinições... Prende-me à realidade, à desilusão, à mágoa de um passado.E liberta-me pela solidão, pela inexistência de satisfações, pela estrada livre que se estende.
Eu não quero ir sozinha. Mas o bolso vazio que me pesa sem pesar, diz-me sem rodeios que já não há com quem viajar.

E os dias sem viagens, os dias sem sono, os dias sem brilho... já não são dias.

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