29 de janeiro de 2011

narcisos.

Das coisas mais incríveis (e muitas vezes também inefáveis) em nós, pessoas, é a capacidade de sentir uma pluralidade complexa e assombrosa de sentimentos no mesmo segundo.
Apenas um segundo, ímpar e solitário, com uma tremenda carga nos seus milésimos. Um segundo como se fosse um narciso, em cada pétala uma história, em cada milésimo de segundo uma emoção distinta.
Uma pétala de saudade, um milésimo de desilusão, uma pétala de ternura, um milésimo de paixão, uma pétala de raiva, um milésimo de desejo, uma pétala de sonho e um milésimo de repulsa. Tudo isto num só segundo, numa só flor, num só número ímpar, sem companhia.
E nós somos pessoas de segundos multiplicados numa quantia avassaladora, tal como um jardim repleto de flores que se perde no olhar... Em cada flor demasiadas pétalas e em cada pétala mil outras histórias p'ra contar.
E se alguém me negar que esta singularidade não tem algo de mágico, de superior, de transcendente... eu simplesmente não acredito. 

27 de janeiro de 2011

even when.

Mesmo que chova e no dia seguinte faça sol, terá sempre chovido.
Mesmo que sorrias e a seguir o mundo se desmorone sobre ti, terás sempre sorrido. 
Mesmo que te preocupes e a seguir te culpes, ter-te-ás sempre preocupado.

E são os primeiros factos, pressupostos, que nos condicionam, constantemente. 

"Basta um sorriso, um simples olhar" e todo o mecanismo pelo qual se move o mundo terá sido alterado, passando de um compasso simples a composto, de um ritmo fácil a um ritmo que impõe estudo e afinco, de um oito vulgar a um oitenta estrondoso.

Quando se tem o Sol, como é que se aprende a viver à luz das estrelas?
Quando se aprendeu a voar, como havemos de nos conformar com uma marcha simples, ímpar e lógica?
Quando nos habituámos a saber ler a vida, a partilhar o que vai escrito nas linhas e nas entrelinhas, a oferecer e a receber relatos inocentes dos estados de alma... quando tudo e mais que isto nos movimentou durante escassos tempos que pareceram eternidades de sonhos, como aprender a viver com o desconhecido de um vazio cruel?

24 de janeiro de 2011

colecções.

O mundo, em constante vivência, tem a cada segundo mais lutas, mais vitórias, mais perdas e mais surpresas do que possamos imaginar. E em cada luta, lágrimas e gritos que não nos emocionam, em cada vitória, caminhos que não conhecemos, em cada perda, espasmos dolorosos que não vimos e em cada surpresa, reacções das quais não tomámos conta.
Em cada emoção ignorada que fica num canto facilmente percebido da nossa mente, cabem tantas outras que conhecemos de perto… Recordações ou saudades, saudades ou amores, amores ou desilusões, desilusões ou sonhos, sonhos ou abraços, abraços ou sorrisos, sorrisos ou olhares.

Se com uma das mãos tememos todo o escuro do desconhecido, com a outra certamente nos deixamos apaixonar por todas as fracções de universo que nos trazem magia ao mundo.
E há pedacinhos que vamos guardando religiosamente, como quem colecciona ventos do mundo em frascos de vidro que ficam aparentemente vazios, mas que na verdade transbordam de dedicação e contentamento.

 As algibeiras não pesam, que o amor não pesa quando é verdade, que a amizade não pesa quando é pura, que a felicidade tem peso de pluma… E por isso os bolsos vão ficando cheios, sem pesar, e quanto mais cheios ficam, mais espécimes tencionamos coleccionar. Porque é assim que somos, queremos sempre mais daquilo que gostamos. E dificilmente enjoamos das doses preferidas do cardápio que nos é oferecido pelo cosmos.

Na lista de itens que vamos guardando ficam sem qualquer dúvida os sonhos, os momentos de êxtase, de loucura, de ternura suave, de paixão calorosa, de amor verdadeiro, de carinho e de afecto generoso, bem como os que nos cravam as memórias com cicatrizes penosas.

Há quem coleccione pequenos pacotes de açúcar ou selos peculiares, colheres de prata ou elefantes de porcelana, pisa-papéis multiplicados ou frasquinhos de perfume, moedas raras ou canetas simples, cartas de amor ou velas perfumadas.
Mas toda a gente colecciona pedacinhos de vida, bem guardados e etiquetados nos armários secretos e nos compartimentos que permanecem imunes aos olhares banais de quem nos olha sem ver.

Mais do que simples coisas, cada um de nós é um coleccionador de melodias, de amores, de memórias, de amizades, de tristezas, de vitórias, de passos em falso, de quedas, de partilhas, de magia.
E essa colecção própria, única e intransmissível, é sem dúvida a única da qual não somos capazes de abdicar.


19 de janeiro de 2011

menina da lua.




"Quero que desprendas de qualquer temor que sintas 

Tens o teu escudo, teu tear 

Tens na mão, querida, a semente de uma flor que inspira um beijo ardente 

Um convite para amar "

Maria Rita - Menina da Lua




13 de janeiro de 2011

quotes # 5


"Num voo de pombas brancas, 
um corvo negro junta-lhe um acréscimo de beleza 
que a candura de um cisne não traria."

Giovani Boccaccio

12 de janeiro de 2011


E essa pessoa até pode ter-te ferido num corte profundo, basta que a ames, com ou sem disso consciência, para que a procures quando vives, para que a esperes enquanto respiras, para que a perdoes sem saber, para que a ames sem a esquecer.

E se essa pessoa, antes ou depois de um qualquer momento menos feliz, te tiver feito sorrir com um passe de magia singelo, não precisarás de mais nada para que a busques nas recordações, bebendo dos sorrisos que relembras, sorrindo à medida que memorizas cada palavra dita antes, ficando triste quando as últimas gotas se esgotam e deixando entrar a saudade que bateu à porta entretanto.


Se num absoluto descontrolo te perderes dos requisitos que te guiavam na imaginação da pessoa ideal, basta que a isso juntes um bater de coração acelerado, um par de faces rosadas, um olhar envergonhado e um abraço que se dá à distância para, como se de cristal fossem os requisitos, os partires em dois ou trezentos pedaços.

É, o amor não move nem montanhas nem ventos e com toda a certeza que não é ele o propulsor do azul do céu e do brilho constante do sol… mas ainda assim é ele, esse espírito endiabrado com faces variadas e exponenciais, que nos leva às maiores escaladas e às maiores lutas, muitas vezes contra a corrente. E é ele, esse a quem damos toda a culpa das loucuras mais e menos felizes, que nos leva às maiores comparações de sorrisos com raios de sol, de olhares com águas intensas e de toques com força de vento.

É preciso apenas um segundo de amor para que os olhos castanhos que deviam ser verdes, que a irreverência que devia ser simplicidade, que a elevada auto-estima que devia ser humildade, que o cabelo preto que devia ser castanho, que o nome que devia ser outro, que as crenças que deviam ser semelhantes.

É preciso apenas amar de verdade alguém, admirando todas as suas qualidades e respeitando-lhes os defeitos, para se perder nas voltas do coração.



6 de janeiro de 2011

quotes # 4


"There is a sacredness in tears. They are not the mark of weakness but of power. They are messengers of overwhelming grief and of unspeakable love." Washington Irving