31 de dezembro de 2009

A ti, a mim e a todos.

Um dia escrever-te-ei um poema, um que valha a pena, do tamanho de Adamastor e da minha imaginação.



Escrever-te-ei dos dias de escrita à janela, dos sorrisos aos ecrãs, dos louvores aos compromissos e das críticas às ilusões.


Dir-te-ei em sussurro as inseguranças, os desejos, os orgulhos e os sonhos…


Farei com que sintas a ansiedade e a procura desenfreada do meu abraço no poema que a ti será dirigido.


Dar-te-ei em testamento poético os malmequeres as tulipas que plantei com o vento, naquele vaso ingénuo que tu próprio achaste ser o meu mundo cor-de-rosa.


Farei com que à medida que fores lendo, te absorvas, te arrepies, te aproximes e te aprisiones às minhas palavras, aos meus pensamentos e a tudo aquilo que sou e sei ser…


Ainda não sei como irei escrever mas sei que o farei. Sei que te irei falar do ano complicado que se estará a esgotar e das surpresas que nele irei encontrar.


Estou certa que irás gostar e aplaudir cada palavra. Dir-me-ás que estás feliz e que aquele poema é perfeito, tão perfeito como o castelo subtil que iremos desenhar com o tempo.


Irás retribuir-me o abraço, elogiar as pétalas brilhantes que imaginei e apreciarás a minha opinião franca do mundo agreste que eu teimo em ignorar a fim de conservar a minha ingenuidade terna e fatal.


Será um poema, um conto e um ponto, uma história, uma espécie de Panis Angelicus adaptado às incoerências de alguém que vive afogada em pensamentos complexos.


Sei que será assim. Um poema meu e teu, nosso.


Sei com a mesma certeza fraca e ténue que também me diz que quando assim for, será único e irracional.


Um dia será assim…


Um dia terei um poema ilógico e verdadeiro escrito, porque um dia irei ter um verdadeiro, único, fiel e ilógico amor a quem escrever.


31-12-09

11 de dezembro de 2009

machines

E se a máquina falha não foi ela que falhou. Foi o Homem quem a criou.

E o Homem falha porque pensa e porque sente e porque vive.


A máquina não falha. Se falha é porque o criador a deixou falhar. Não a preparou para o êxito total. Se o Homem a cria com falhas, ela irá falhar. Se a cria, dotado de toda a supremacia e omnisciência sobre ela, sem qualquer absoluto cálculo errado, então não falha.


A máquina não ama nem é feliz. Se disser que ama e que é feliz, é porque alguém a fez para artificialmente o dizer. Dizer que ama e que desfruta da vida.
Mas dizer…

Dizer?
Palavras nem sempre bastam. Bastam para as máquinas que não sentem os sons e as letras e as frases. Só as decoram, codificam ou descodificam e programam.

Dizer?
Diz-se muito e demais. Fala-se tanto mas conversa-se tão pouco.
As máquinas não conversam. Falam. Dizem. Criam utilidade.
Mas não sentem, não amam nem conversam.


Porque se sentissem, conversassem ou amassem era certamente humanos. Porque só o Homem ama.
Cria. Destrói. Ama. Odeia. Glorifica. Derruba. Sente. Esquece. Aproveita. E falha.


O Homem cria as suas máquinas e com elas, se estas falham, cria as falhas delas. Mas as falhas que cria, são conhecimento. São erros mas saber futuro.
Quando se erra já se sabe que o caminho não é por ali.

Cria-se e erra-se. E tem-se consciência do que se é.
O Homem cria e ama a criação que saiu de si. Orgulha-se e felicita-se. E vive com os outros e ás vezes para os outros.




Se falha foi porque tentou.
Porque quem não tenta não falha
nem alcança nada.

AnaCatarina.

7 de dezembro de 2009

women.



A man can have a woman and love her.

A man can have a gun and he can like it.
 A Man can have a gun and kill someone or kill himself.

But if a man loves a woman, he can't kill anyone, just himself. -AC



Há alguns dias disseram-me que as mulheres eram a coisa mais perigosa do mundo.
Bem, não acredito que sejamos assim tão temíveis, mas alguma razão ele há-de ter.
Podemos, hipoteticamente (e baseada na opinião de alguém) designar as mulheres como as SS.
SS porquê? Porque na opinião dele, as melhores ou as piores armas das mulheres – armas estas que nos conferem o título de maior perigo – são a Sensualidade e a Sedução.


Nem todas as mulheres as usam por norma, mas quando queremos algo, com muita vontade, há que saber dispor do que nos foi oferecido pela natureza.
As mulheres não têm nada a ver com beleza exterior. Bonitas ou foram dos padrões, usam-se outros trunfos. Trunfos de personalidade.

Nem todas as mulheres querem, mas a maioria quer alguém que as faça sentirem-se ainda mais especiais do que merecem.
Alguém que as faça sorrir sinceramente ou mostrar um sorriso enviesado, alguém que as deixe suspensas com um poema, uma canção, uma frase, um olhar…
Não querem o mundo mas gostam que alguém mostre que lho poderia dar, porque ela o merece e porque ele a ama o suficiente para isso.


Mulheres gostam de sorrisos e de mãos dadas, de olhares travessos e gargalhadas comprometidas.
Gostam que as seduzam levemente, sem ponta de arrogância, prepotência ou possessão.
Gostam de amar. E para isso e quando isso, em horas de dificuldades, fazem uso do título. SS. Porque as armas foram feitas para tempos difíceis e nunca ninguém disse que o amor era fácil.


Nem sempre resultam e quando resultam nem sempre é para sempre.
Mas acabam por resultar uma, duas, três, quatro, cinco vezes …
Até que há-de chegar ao ponto perfeito. A mulher usa a melhor frase, o sorriso mais encantador, ao mais profundo olhar, ao perfume mais convidativo, à dança mais abrasiva, ao tocar mais marcante… Em resumo, à sedução perfeita.


Não se oferecem. Mas são capazes de mostrar os defeitos e as qualidades de uma maneira cativante, doce, suave e hipnotizante, conjugando a sensualidade da sua personalidade com a sedução do ambiente criado.


O que quer então uma mulher? Quer o mundo e todo o resto. É com certeza um conceito subjectivo aquele que têm, temos, do mundo.
Mas é um mundo onde é legal o uso propositado de armas. E é um mundo onde as mulheres nem sempre vencem mas onde também não morrem em combate.

Ac.



20 de novembro de 2009

assim assim.

Li recentemente um livro que começava quase todos os capítulos assim “Antes não havia nada. Antes não havia Deus. Antes de Deus não havia nada”.



Fez-me pensar em várias coisas.



Às vezes há tudo outras vezes há nada. Normalmente há sempre nada e depois qualquer coisa aparece e transforma o nada em tudo. E às vezes, nada que entretanto já fora tudo, volta a nada, volta a cinzas e a pó.


E a esse pó, do qual somos todos criadores, todos somos alérgicos. Alérgicos à criação, não do tudo mas do nada, porque ninguém quer ter um nada, um nada é frio e só e vazio e triste e estranho. Ninguém vive no nada.


Quando temos nada estamos um bocadinho mortos. Ou a morrer ou a ressuscitar depois da quase falência.


Às vezes temos tudo. Temos os sorrisos, as promessas, os risos, as alegrias, os gritos e as emoções, os amores, as melhores amizades e as amizades eternas, os sonhos, os horizontes e as certezas.


Às vezes temos nada ou quase nada. Temos sorrisos vazios e leves, esvoaçantes. Temos alegrias projectadas em quando ainda havia tudo. Temos gritos e emoções e amores tristes. Às vezes quando temos nada não temos as melhores amizades e as amizades eternas, que ficaram com tudo. Os sonhos, os horizontes e as certezas estão debaixo do pó em que as certezas, os horizontes e os sonhos se transformaram.


Quando temos nada temos frio. Há cinzento e escuro, andamos em caminhos onde o acendedor de candeeiros que o principezinho conheceu não iluminou. Há casas, pessoas, caminhos, escolhas iguais, umas às outras. Quando há nada temos sempre alguma coisa. Mas são coisas que são nada. Porque o nada é triste. E o tudo é aquilo porque nos damos. O tudo, quando há tudo, até podemos nem ter nada, porque afinal, quando há tudo, nada importa.


Mas nem sempre há tudo. Às vezes há pó. E como somos alérgicos, ficamos vermelhos e choramos.


AnaCatarina




10 de novembro de 2009

rotação.

Às vezes parece que o mundo parou por breves segundos. É raro que a vida dê descanso. É raro não ter decisões, escolhas, responsabilidades, explicações, preocupações, angustias, desejos, objectivos a cumprir…



E quando de vez em quando o mundo faz uma pausa, não pode existir melhor sensação.

Pode ser noite escura e além de duas respirações ofegantes não se ouvir mais nada debaixo de um céu bonito, próprio de quem ama.
Pode estar sol e ser verão e podemos encontrar num passeio à beira mar com as sandálias na mão e os olhos no horizonte, a calma que a rotina retira.
Pode cair a primeira chuva de Outono e deixar aquele cheiro a terra molhada, enquanto cantam as cigarras e nós temos todos os sentidos bem no auge da perfeição.
Pode estar no ar a música favorita, uma fragrância suave a pêssegos cor-de-rosa ou podemos dançar a dança mais meiga que já tenhamos dançado.
Pode ser enquanto observamos um bebé a rir, um casal idoso que caminha abraçado, uma declaração apaixonada, uns pais dedicados, um momento de ternura desmedida entre crianças pequenas e diferentes…


Há momentos em que o mundo deixa o movimento de rotação para depois. E aí, somos nós quem rodopia.


Podemos fazer uma pausa com o mundo durante uma dança quente, enquanto trocamos um olhar que nos leva a respiração, quando sorrimos escondidos, quando recebemos uma óptima noticia, quando pulamos de alegria, quando nos abraçamos num abraço apertado a alguém que nos diz imenso.

 
O mundo de vez em quando pára para que possamos dançar com ele.

E quando sentimos o peito apertado sem espaço para tanto sentimento, sentimos necessidade de partilhar e gritar ao mundo que é o melhor parceiro de dança.


Esqueçam lá o movimento de rotação. A melhor dança, o melhor rodopio, é aquele que faz o mundo parar e voltar a girar. E são estes movimentos únicos e de todos que realmente põem o mundo a rodopiar.

5 de novembro de 2009

calçada.

Nunca pensei que as pessoas importantes passassem.
Não falo daquelas que conhecemos e com quem convivemos algum tempo e que deixaram saudades, poucas ou muitas, quando foram.
Refiro-me àquelas que viveram connosco. Que souberam de cada passo ou de pelo menos da maior parte, de cada dúvida, de cada segredo bonito ou angustiante, de cada desejo e de cada objectivo a cumprir. Falo daquelas que sabiam com que pensamento olhávamos as coisas e que adivinham sempre o que queríamos receber. Daquelas que se sentavam ao nosso lado e nos sorriam ou choravam e que mesmo assim, ali ao lado, eram felizes connosco. E nunca com um “sem”.



Fizemos planos e planos. E nunca tivemos duvidas que seriam para cumprir. Tivemos o céu e a estrada como certa, muito certa e segura. Definimos as nossas acções futuras e jurámos que seria para sempre. Sempre!
Quanto é que dura o sempre?
Para mim o sempre é depois do nunca. Não há fim, não há conhecimento, não há despedida. Porque o sempre era para sempre e depois disso.


Mas as pessoas passam. Passam como passamos pela calçada das ruelas de Coimbra e depois de passar fica só a sensação de “já passámos por ali”. Na calçada moram mil e milhões de sensações dessas. E elas aguentam. Mas as pessoas que ali passam não cativam as calçadas, porque se as cativassem as pedras sentiram mais quando não sentissem as pessoas especiais passar por ali. Para as pedras da calçada, as pessoas especiais são mais azuis e mais cinzentas que o céu acima, são mais frias e mais suaves que as brisas fortes do inicio do tempo em que chove, são mais fortes que o calor branco e agreste que sente e se inala nos tempos das cerejas.


Como seria se a calçada perdesse o céu, o vento e o calor? Ou perdesse o inverno, o verão e as outras estações em que os comboios não param mas em que o tempo também anda?


São raras as pessoas que cativam as calçadas, mas quando o fazem e depois mudam a caminhada, lá se vê um ou outro paralelo despegado, sem raízes, sem rumo. Só fica conotado como um estorvo, como uma pedra imperfeita, como algo desprovido de sentido e utilidade.


Também são raras as pessoas que nos cativam. São o sol, a chuva, o vento, o mar, as nuvens. São o porto seguro e o mais desejável segredo. A mais pura das verdades e a mais doce tentação. Não há tudo, mas elas serão uma imitação real de um protótipo semi-perfeito do tudo. E quando se perde o tudo, ficamos como os paralelos da calçada.


Porque uma vez cativados e depois apenas esquecidos ou a esquecer, ficamos sem o sol, o mar e céu. Ficamos sós, a calçada, os outros e eu.


Mas o sol ainda brilha, o céu ainda está onde devia estar e o vento ainda se ouve murmurar. O mundo gira e nós estamos cá para ficar. E cativar !


AnaCatarina.

10 de outubro de 2009

muito amor em muitos amores.

Era uma vez o amor. Era uma vez uma rapariga. Era uma vez uma história.



Tinha olhos escuros e o cabelo liso caído pelo meio das costas, os lábios finos e claros desenhavam-lhe imensos sorrisos sinceros e era das poucas raparigas que gostava de ir em pé nos autocarros e que adorava caminhar em passo acelerado pelas calçadas. Chamavam-lhe Madalena.


Ele era imprevisível, arrebatador, fulgurante e pouco sensato. Mas também sabia ser sincero, meigo, terno e romântico. Fazia-a suspirar, revirar os olhos e imaginar mil e muitos cenários queridos. Também a deixava louca, esvaída em equilíbrio, confusa e com o ego em queda.


Chamavam-lhe amor, e noutros dias também paixão e ódio e nomes assim.


A Madalena e o amor tinham uma grande história.


Madalena desenvolveu ao longo da sua vida uma propensão ultra dimensional para amar. Amou os pais e toda a família mais próxima, amou as barbies das quais cuidava com primor, amou as amigas que passavam fim de semanas com ela, amou os ursos de pelúcia e os estojos de maquilhagem que lhe ofereciam nos anos em estojos de cetim cor-de-rosa. Mais tarde amou os livros de aventuras que começou a ler e apaixonou-se pelo seu colega de carteira.


Amou de novo e novamente e depois outra e outra vez. Pelo meio e enquanto estes amores, amou as melhores e os melhores amigos, amou a escrita e a música, amou os sonhos e as fantasias, amou os segredos, amou os vícios e a melancolia.


Depois do ultimo amor quente, foi amando. Deu continuidade a todos os amores que mantinha religiosamente de há longos anos. Mas depois do ultimo e forte amor, deixou de amar para ir amando, diária e ocasionalmente. Ainda ontem, julgou ter encontrado no livro que comprou sobre a vida romana dos romanos em Roma na época do império Romano um amor sincero. Mas depressa se desiludiu. Era um amor dispendioso.


Mas voltou a amar e dessa vez, quinze minutos depois de uma desilusão, soube que naquele momento diria um alto sim a tudo o que lhe quisesse pedir aquele rosto. Era médio, moreno e tinha um piercing. Achou-o perfeito assim que o viu. Tinha um rosto sereno e fiel, umas mãos fortes e um olhar profundo. E soube que estava apaixonada quando o ouviu ceder o seu lugar para uma senhora quarentona, numa voz simpática e sincera, forte e branda, leve e perfeita. Teria ficado com ele para sempre, naquele momento. Mas as viagens de autocarro têm sempre uma paragem. E Madalena saiu antes dele.


É claro que Madalena voltou a amar. Mudou de penteado, mudou de amigos, mudou de expectativas e mudou de amores. Mas amou sempre e sempre soube que nem todos os seus amores seriam para sempre.


E era assim que Madalena e o amor tinham uma história.

30 de setembro de 2009

av.'

Há bastante tempo que já não escrevia aqui no blogue. Foi uma ausência prolongada, condicionada por inúmeras razões, todas elas com muita e pouca razão de ser, mas que me deixaram sem saber sobre o que poder dizer.

Então, para quebrar o silêncio, hoje venho aqui escrever sobre alguém. Não é alguém mundialmente famoso mas estou certa que é bastante conhecido. Vou falar-vos do André.

De seu nome, André da Maia Júlio Marques Vidal, nasceu a 24 de Setembro de 1991 e é por isso, nativo do signo Balança. Segundo os meus conhecimentos limitados ( e segundo aqueles que são divulgados em sites sobre astrologia), as "balanças" são pessoas gostam de agradar, conseguem sentir-se no lugar dos outros, tentam ser justos e são seres muito sociáveis, além de que são mestres nas lides de casa. Eu até acho que o André se adequa aqui.

Quem conhece sabe, mas quem não o conhece não tem ideia do tipo de pessoa que é o meu xuxu.

É das melhores pessoas que já conheci. Não sei se foi por ter nascido "balança" mas ele é super correcto, educado, sensato. Tenta sempre fazer o melhor possível e tem em atenção os outros. É justo e imparcial e sabe analizar as situações de um modo ímpar, mesmo que nessa se inclua um dos seus melhores amigos. É sociável? É. Faz conversa com toda gente e fala sobre qualquer coisa, porque é imensamente culto. Sabe sobre música, sobre política, economia, fofocas, cinema, literatura e agora, até sobre futebol. Mas é um bocado reservado.

O André luta pelo que gosta. Estudava para a escola, aplicava-se nos projectos e nos trabalhos e quando não o fazia, conseguia com que toda a gente pensasse que ele fazia. Foi, senão o melhor, um dos melhores alunos da Secundária Marques de Castilho desde 2006 até 2009.

Tem muito jeito para as artes. Escreve e canta bem, e apesar de ele achar que tem, só não tem muito jeito para o desenho.

Faz-me rir e sentir bem, porque é uma pessoa super agradável.

Claro que tem defeitos e dias maus. E nesses dias, não pode sempre proporcionar as piadas a que acostumou quem rodeia. Mas mesmo nesses dias, é correcto.

Sabe ouvir e discutir, tem boas ideias e óptimos príncipios. Tem alguma paciência para aturar situações, pessoas e momentos chatos ou incompreenciveis e além do basket, não tinha grande jeito pro desporto.

Não quis pra ele algo que lhe desse fama, dinheiro ou poder. Decidiu aquilo que realmente queria e que possivelmente mais felicidade lhe daria.

O André? Sabe aproveitar a vida. Apesar de às vezes querer aproveitá-la de outro modo, sabe aproveitá-la da maneira que num dado momento, mais felicidade lhe pode proporcionar. Mesmo que todas as suas vontades não estejam cumpridas num dado momento, ele tenta tirar partido da situação.

E pronto, num jeito resumido é isso.

Boneco, és das melhores pessoas que eu conheço. E tenho imenso orgulho em ti!

Um beijinho, Catarina. *

17 de setembro de 2009

pois.

Sempre me habituei a rotinas. Por exemplo em tempos habituei-me a escrever constantemente aqui. Depois, quando a rotina se tornou demasiado abusiva, tirei férias das repetições. Revoltei-me com a escrita e a inspiração deu folga. Mas como entretanto me deparei com outra rotina, a de não escrever aqui, acho que está altura certa de a quebrar!

É verdade, sou caloira! Entrei na Faculdade de Direito, na Universidade de Coimbra. Foi a minha primeira opção! E fiquei feliz quando soube às 02h da madrugada de sábado, ao visualizar o meu nome no pequeno ecrã, que me informava colocada na FDUC. Fiquei feliz porque tinha sido bem sucedida naquilo que queria. Estive feliz no sábado, estive feliz no domingo e na segunda-feira também. Na terça-feira, quebrei a rotina recém instalada.

Ser caloira tem um significado importante. Significa que estamos no inicio de uma nova fase da nossa vida. Provavelmente vamos ficar mais independentes, vamos amadurecer e aprender uma quantidade exorbitante de coisas novas. Quem vai pra longe sai de casa, tem que se virar sozinho. E foi por isso que na terça-feira não estive feliz! Procurar sitio para morar não é só dizer, vou ficar aqui! Exige pesquisa, insistência, preserverança, esperança, confiança. Fiquei desapontada. Nada do que vi correspondeu às minhas expectativas. Acho que queria uma espécie de casa igualzinha à minha mas em ponto mais reduzido. Só que dessas não havia pela cidade dos estudantes.

Então, cumpri o dever moral de um caloiro! Chorar! Chorei e não foi qualquer coisa. Foi com convicção. Por saudades antecipadas, por saudades daqueles que já não vejo à muito tempo, por saber que se avizinham tempos carregados de mudanças e novidades. Não vou conhecer todos os meus vizinhos de Sta Clara, não vou poder esperar encontrar certas pessoas em certos sitios, porque ainda não conheço nem certas pessoas nem certos sitios. Vou ter que cozinhar, arrumar, acordar cedo para preparar o pequeno-almoço e mentalizar-me para ter umas cadeironas de Direito, vou ter que gerir melhor o tempo entre estabelecer contactos com os antigos e com os recentes amigos, matar saudades dos pais, desempenhar o papel de dona de casa e associar tudo isto à personagem de uma estudante empenhada e esforçada no curso de Direito.

Vai custar, vai ser bom, vai acabar por ser uma rotina.

Hoje, só pra quebrar a monotonia dos dias de ausência, deixo aqui impregnadas as melhores lembranças dos ultimos três anos. As conversas sinceras e sensatas, as conversas estúpidas e sem nexo, as sessões de fotografias, os furos de aulas, os jogos de sueca italiana ou sobe e desce, os estudos improvisados nas vésperas de testes. Vou ter saudades e já tenho, dos sorrisos. Dos cúmplices, dos timidos, dos 'já fizeste ou tás pra fazer', dos 'também reparaste no mesmo que eu', dos sinceros, dos 'adoro-te', dos 'és tão querida/o' ou ainda 'não percebi nada, mas tá bem'. Vou ter saudades dos bons dias e dos maus dias que se cumprimentam ainda assim. Mas faz parte de uma fase nova. E eu quero esta fase. Portanto, fico com as novidades e com as saudades e guardo tudo bem enfiado num bolso.

Sempre.

2 de setembro de 2009

Já não desespera, porque já não espera.

O tempo passa, vai passando. Já demorou a passar, já passou depressa e às vezes parece que passa sem nos deixar passar com ele.



E quando assim é, que ficava eu a fazer enquanto o via partir?


Sentava-me e esperava que desse a volta a que estava destinado. Permanecia sentada e ia-me resignando com a espera e com a incapacidade de resolver os problemas que tinha classificado como impossíveis.


Às vezes, parecia-me sentir a volta do tempo e batia galopante a esperança de ficar com ele ali ou de partir com ele para longe assim que chegasse.


Fui perita em esperas. Toda a vida senti e aguardei que passasse. E senti e confiei que sentissem comigo. Conheci muitas salas de espera e muitos motivos para esperar. Tornei-me numa especialista em causas impossíveis e soube ficar sentada à espera que o tempo levasse os sentimentos com ele ou me livrasse a mim do desconforto daquelas cadeiras de cabedal.


Mas o tempo passa. E com ele passam os cenários, os filmes e as personagens secundárias passam quase todas também. E quando o tempo passa há, muitas vezes, que reajustar o elenco principal.


Hoje, não espero mais. Vou andando, num passo leve e delicado, meço o equilíbrio, levo os meus valores e ponho os sonhos atafulhados nos bolsos. Não vou a correr. Afinal, não há que ter pressas porque não vou atrasada. As pausas que fiz, sei agora, foram importantes para aprender a andar com o tempo.


Hoje, não vou sentar-me nem esperar. Se achares que ainda vale a pena, corre. Eu não vou longe ainda e tu ainda me apanhas.



19 de agosto de 2009

Amor-Perfeito.


Quando julgamos ter encontrado a pessoa certa, que preço estamos dispostos a pagar para a contemplar?

É fácil listar as características que esperamos encontrar na pessoa ideal. O meu por exemplo, será culto e inteligente, defenderá a maior parte dos princípios que eu também defendo, terá senso de humor e sensatez, terá objectivos na vida e saberá adequar-se à maioria das situações e ser justo e imparcial. Será sensível e terá uma veia artística.
Tal como eu defini um perfil do que pretendo, também todos os outros podem ter.

E quando encontramos a pessoa que corresponde nas medidas certas à descrição que fizeram?


Quando suspiramos e reviramos os olhos ao ver o rosto que admiramos, quando ficamos nervosos apenas porque vamos estar algumas horas juntos, quando cada casal que vemos nos faz lembrar a pessoa da qual sentimos falta e quando o futuro apenas parece fazer sentido ao lado desse ser?
Seremos capazes de esquecer que aquele sentimento não é possível e seguir em frente?

Ou ficaremos parados, ansiando uma só palavra ou um só gesto que dê ânimo à espera interminável que iniciámos? Ou ficaremos presos a alguém que, por nenhuma culpa, não sente o mesmo, aprisionados na nossa própria amargurada consciência, de que não estamos felizes assim, mas que a simples mudança, pode deitar para trás a pessoa que julgámos capaz de nos fazer felizes para sempre?

Será suficiente a admissão da infelicidade para pôr fim a uma devoção unilateral? Sim. (Quando o deus que admiramos não é de facto o que idealizámos.) Nem por isso. (Quando o rosto divino que ansiamos, parece merecer cada sórdido sacrifício.)

Masoquismo? Absoluto.
Mas não será também isso, amor?

Quando se ama, ou se julga amar, aquele que achámos que seria perfeito, a simples ideia de deixar de o olhar com sentimento, dói quase tanto como os duros golpes que nós próprios infligimos nos nosso orgulho, ao saber que talvez (quase de certeza) não o possamos ter.

Que preço estamos dispostos a pagar pelo amor que julgamos ser o “amor-perfeito” ?


ac.

31 de julho de 2009

ataraxia.


Sempre fora uma pessoa justa, calma e imparcial. Capaz de dar o seu parecer em situações difíceis de um modo suportável para quem tinha razão e quem não a tinha, capaz de transformar uma situação péssima e quase irrevogável numa lição de moral e numa aprendizagem para o futuro e capaz de amenizar os atritos entre personalidades distintas, de suavizar as discussões que surgiam num calor infernal mesmo nas tardes de inverno.
Se havia pessoa capaz de lidar com situações difíceis, era ela. E orgulhava-se disso. Disso e de poder dizer, em voz alta e ao reflexo inseguro que via no espelho, que essa era a sua maior qualidade.


Porém, não se orgulhava de não conseguir ser imparcial em amores. E sabia, que por mais que quisesse ser, não o poderia, porque no amor, quem é imparcial não ama.
Mas ela tinha esperança que com a imparcialidade pudesse vir algo que não a destruísse aos poucos, algo que lhe fechasse o negro no peito que conquistara penosamente ao longo de uma tríade temporal.

Pedia uma solução, secretamente, que a fizesse sentir-se completa, como antes se sentira. Uma solução que a fizesse contemplar a beleza de um pôr-do-sol à beira mar por si só, sem ter que a associar à melancolia indesejada de um rosto longínquo, ou que lhe permitisse olhar as estrelas e a lua em quarto crescente sem pedir, silenciosamente, que a brisa cálida de uma noite serena, o trouxesse de novo até si, apenas para o admirar, de novo, uma vez mais.
Com certeza que o amor dela não podia ser imparcial. É que era mesmo amor. Pleno, sereno, recto, justo, forte, terno, saudoso, penoso, perfeito. Amor. Amava sem pedir em troca nada mais que a felicidade do rosto que contempla em todos os outros rostos que não interessam; amava sem desejar tê-lo, mas sim, vê-lo, para que a saudade não sufocasse; amava de alma cheia, com medo e angústia dos tempos passados, com breves lanços de esperança no futuro e com a maior dedicação no tempo do agora.

Sabia que se chorasse por muito mais tempo acabaria por matar dentro de si as possibilidades de se tornar plena, numa outra ocasião, tornando-se numa pessoa fechada, fria e só. Sabia que se acreditasse demasiado no depois, se tornaria iludida, aturdida e manipulada pelas esperanças vãs e infundadas que ninguém prometeu. Sabia que as recordações dos seus traços fortes a fariam desfalecer por dentro sempre que por inveja ou outro qualquer sentimento, alguém ou algo a fizesse lembrar-se dele. E sabia que isso seria constante. E que seria constante e demorada, a sua morte face a um mundo inexplorado.

Então, em jeitos de calma desmedida e numa ilusão ciente por si criada, criou um redoma à sua volta.
Hoje, não o chora, não o sofre, não lhe sorri sem o ver, não o deseja de segundo a segundo, não o imagina, não o inveja, não o admira, não o sonha, não o pinta, não o recorda nos retratos.

Só o espera.

Só o ama, desesperadamente, calma.

28 de julho de 2009

outros.

O que os outros pensam não importa.

E quem são os outros? E o que dizem eles? E porque não importa?

Os outros são pessoas a quem não recorremos frequentemente para desabafar, para contar as novidades ou os relatos banais do dia-a-dia, para convidar a uma ida ao cinema. São pessoas que facilmente passam despercebidas nas nossas tomadas de decisões e embora as tenhamos de em conta de vez em quando, são aquelas às quais dirigimos um singelo “olá” e tudo fica dito. São pessoas que até nos podem julgar conhecer, mas nunca saberão quais são os nossos sentimentos, as nossas opiniões, os nossos maiores amores, os nossos maiores e mais humilhantes momentos ou até mesmo pequenos pormenores que só os que se interessam verdadeiramente por nós, conseguem captar.

Os outros pensam muito ou muito pouco de nós. Dependendo da personalidade dos outros e dos seus outros amigos, podem ignorar-nos ou criticar-nos afincadamente. Podem pensar que parecemos ridículos ou pensar que deveríamos ser mais contidos. Podem pensar que somos fabulosos ou que nos deveria acontecer qualquer coisa para experimentarmos o outro lado do adjectivo. Podem pensar que somos detestáveis ou que gostariam ainda mais de nós se os tivéssemos por perto.

Não importa? Ás vezes importa bastante. Mesmo que se tenha um ego inabalável e que o primeiro comentário depreciativo de uma cara pouco importante não produza qualquer efeito, talvez a décima observação já nos ponha a pensar se seremos realmente como os outros dizem. Outras vezes não importa mesmo. O que interessa se um fulano, quase desconhecido, nos dirige um olhar de reprovação ou de inveja, de pena ou de ódio? Se estivermos felizes e lhe lançarmos um sorriso brilhante, sei que o outro seria capaz de aumentar ainda mais a sua pena, a sua reprovação, o seu ódio ou a sua inveja e estou certa, que em alguns momentos, isso também nos aumentaria bem a felicidade.

Se os outros pensam ou falam de nós, bem ou mal, pensam e falam. E o problema é deles, porque desde que nós estejamos bem da maneira que estamos, não somos nós que temos algo a resolver.

Portanto, quem são os outros, o que dizem e que importância têm? Não interessa. Os que interessam, não sou outros, eu sei o que dizem e a importância é mais que sabida.

Ac.

24 de julho de 2009

Desacertos,.

Às vezes, na música, há uma nota que falha.

Antecipamos e deturpamos o ritmo da melodia como um fio que quebrou no tear e alterou o padrão de um tecido. Ou atrasamos uma colcheia e ficamos a contratempo, desacertados com os que nos acompanham. E nem sempre sabemos mudar o ritmo que tomámos inesperadamente para voltar ao compasso sensato.


A verdade é que a nota falhada pode até nem se notar, dependendo da melodia onde estava encaixada. Mas, se fosse num solo, em que cada um de nós, cada artista, tivesse que executar uma música brilhante, capaz de arrepiar e colocar uma lágrima de emoção nos olhares, em que estivéssemos isolados, destacados e responsáveis, cada nota falhada, antecipada, atrasada ou mesmo ocultada, iria ter efeitos indetermináveis.


Aquela nota que falhámos, podia ser a nota que precisávamos para que no fim, ouvíssemos o nosso nome sair da boca dos espectadores na forma de aclamação, que iriam aplaudir de pé.

Ou podia ser, aquela nota que antecipámos, o motivo pelo qual fomos mal compreendidos e nos vimos negados do direito a mostrar que poderia ter resultado.


Ou então, a nota que atrasámos, podia mesmo ser, a razão pela qual chegámos tarde de mais a um palco onde já não tínhamos lugar, onde a orquestra já estava completa e onde o lugar que tanto queríamos e que tivemos como certo e garantido, já não existia mais, porque quando chegámos, já era tarde.

Na realidade, na música, naquela que habitualmente ouvimos, os erros são sem dúvida bem mais fáceis de suportar.


Mas, na verdadeira melodia, a que é feita de pautas bem delineadas e que roubou de nós partes importantes de sossego, na verdadeira melodia, naquela em que demorámos a encontrar todos os executantes necessários e indispensáveis para a sua existência, na verdadeira e mais pura melodia, aquela que construímos, aquela que escolhemos a dedo, aquela que nos fez pensar e repensar, aquela que nos obrigou a escolher e a abdicar, aquela que causou transtornos e alegrias, aquela que deixou que os passeios de mãos dadas fossem sempre adequados, que deixou que os pores-do-sol pudessem ser sempre cenários de melancolia e que deixou que os pensamentos fossem sempre o melhor e o mais assustador refugio de sonhos por cumprir, nessa, cada nota é a solo.

E num solo, somos só nos.

E aí, cada nota, antecipada ou atrasada, irá ter o seu custo.
E nós, músicos de poesias vazias de letras, sem uma máquina do tempo, teremos, teremos mesmo, que o saber pagar.

21 de julho de 2009

Pormenores

Queridos seguidores do blog (sim, vocês os dois, não há mais nenhum),
Tenho que vos pedir as mais sinceras desculpas por ter estado tanto tempo sem escrever no blog. A verdade é que tenho estado bastante ocupado, mas nem assim deixei de observar determinados pormenores do dia-a-dia, que desde já partilharei aqui com vocês.

Em primeiro lugar quero aqui destacar a forma como a Gripe A veio revolucionar o mundo. Em países como o Líbano, em que o costume é dar-se três beijinhos como cumprimento, esta prática foi já proibida pelo governo como medida preventiva. Nem tudo é mau, se tiverem uma daquelas festas em que a lista de convidados se estende demasiado e não vos apetece dar beijinhos a toda a gente, então o Líbano é o local perfeito.

Mesmo se ficarem infectados, há sempre aspectos positivos. Imaginem a vingança que poderiam efectuar sobre aquelas tias que vos apertam as bochechas e vos dão sete ou oito beijinhos. Agora seria a vossa vez.

Hoje em dia dizer-se que se está constipado ganhou uma nova dimensão. Talvez já possa mesmo ser usado como uma desculpa viável para faltar ao trabalho. Para além disso, se quiser arranjar um lugar num autocarro ou no comboio vá de máscara e comece a espirrar violentamente. Garanto-lhe que não ficará de pé.

Mudando de assunto, tenho-vos a dizer que este fim-de-semana detectei a actividade que nos rouba mais tempo por dia: procurar o comando da televisão. Dizem que cada cigarro nos tira aproximadamente cinco minutos de vida, mas ninguém se preocupou ainda com o tempo que demoramos a procurar o maldito comando sempre que queremos ver televisão. E acreditem que por dia são bem mais do que cinco minutos. Neste aspecto, o comando assemelha-se em muito com o dinheiro do BPN: nunca sabemos onde está, não sabemos quem o tirou do sítio e quando perguntamos a alguém pelo seu paradeiro, as pessoas perdem rapidamente e memória e a resposta é sempre um inocente “Não sei de nada”. Ainda gostava de saber o que o Nuno Melo tem a dizer sobre isto. Talvez faça uma audiência sobre comandos.

Por fim, ouvi recentemente na rádio que um aluno passou de ano lectivo com nove negativas. Hoje em dia passar de ano é tão fácil que qualquer dia exigem-se negativas para entrar na universidade. Na minha opinião esta política do ministério da educação não passa de uma medida para aumentar a natalidade. Talvez fiquemos mais contentes quando repararmos que o teste de gravidez deu positivo!

20 de julho de 2009

despertar.

Despertar

“O tempo passa. Mesmo quando tal parece impossível. Mesmo quando cada tiquetaque do ponteiro dos segundos dói com o palpitar do sangue sob a ferida. Passa de forma irregular, em estranhos avanços e pausas que se arrastam. Mas, lá passar, passa. Até para mim.”


Stephenie Meyer, Lua Nova.



É verdade. O tempo passa. E com ele passam as pessoas, passam os detalhes das recordações mais vulgares, passam mágoas, medos, incertezas, amores e dores incontroláveis.

Passar, passam. Mesmo que o facto de passarem não implique que realmente morreram e que seja “como se nunca tivessem existido”. Nem o tempo, pode apagar definitivamente qualquer acontecimento importante.

Mesmo às vezes, quando tentamos fazer com que passe rápido porque os segundos batem dificilmente, abrindo um fosso na plenitude.

Mesmo enquanto tentamos ignorar uma realidade e o fazemos todos os dias, o tempo passa. Penosamente. Num ritmo marcado, tic-tac, tic-tac, rotineiro, assustador. Infernal.

Mas passar passa. Não leva com ele o que queríamos que nunca tivesse acontecido, mas pelo menos diminui a frequência das lembranças penosas, ameniza o latejar da cabeça e deixa o peito doer raras vezes.

Passar, passa. E mesmo que não dê solução aos problemas, lentamente, deixamo-nos de os recordar tão firmemente, transformando-os numa vaga recordação ou numa memória insensível e cruel, quase como um impiedoso vírus crónico, sem solução, sem cura, sem aviso. Sabemos que lá está. Sabemos que mais cedo, mais tarde, dará sinais da sua presença.

Mas o tempo, passar, passa. E mesmo que não solucione o que pretendíamos, há-de trazer de volta as oportunidades que precisamos para o ignorar e aproveitar o tempo que resta, tentando, de algum modo, enquanto bate o tic-tac regular dos ponteiros, ser feliz.

Mas passar, passa.

15 de julho de 2009

sabe bem.

O futuro dos outros é bem mais fácil de decidir do que o nosso. Aliás, tudo o que diz respeito aos outros tende a parecer sempre mais simples para nós. De facto, “com os problemas dos outros posso eu bem!” e o mesmo se passa para as simples decisões que irão condicionar as suas vidas de amanhã.
Basta dizer algumas palavras, escutar as inseguranças, confortar, indicar a solução que parece mais adequada e desejar boa-sorte numa atitude amiga e positiva.
No entanto, quando se tratam das nossas próprias decisões, tudo se torna um pouco mais complicado.
Conhecemos as nossas limitações, os nossos pontos fortes e os fracos, os nossos medos, as nossas expectativas, os nossos sonhos e as nossas dificuldades em lidar com realidades novas.
Face a uma decisão importante, perdemos a plenitude. O sono tarda, as voltas na cama somam-se às inúmeras perguntas que fazemos àqueles em quem mais confiamos e dos quais esperamos uma resposta sábia e sincera.
Arranjamos múltiplas hipóteses diferentes para solucionar o mesmo problema e desesperamos quando nenhuma parece fazer sentido.



No entanto, apesar das dificuldades sentidas, apesar das horas de sono perdidas, apesar das angústias vividas, sabe bem.

Sabe bem ouvir todos os que nos são mais importantes indicarem as nossas qualidades e minimizando os defeitos, fazendo-nos parecer incrivelmente capazes.


Sabe bem encarar a decisão, insegura, mas com a certeza de quem além de nós há mais quem acredite no sucesso futuro que virá com aquele passo cuidado.

Sabe bem escolher, preencher um espaço branco e seleccionar as opções pretendidas.


Sabe bem olhar um sopro de papel onde depositámos cuidadosamente as escolhas de uma vida e

onde selámos os sonhos de uma esperança feliz.


Sabe bem, muito bem, olhar o horizonte, lembrar o que ficou para trás, o que tivemos de deixar, o que perdemos por medo, com saudade, com brilho e uma lágrima de melancolia.

Sabe bem, encontrar uma mudança. Mas sabe melhor, ao encontrá-la, ter por perto aqueles que fazem parte das recordações e aqueles que foram, são e esperamos que sejam, os mais importantes.

AnaCatarina'

14 de julho de 2009

ainda bem.

“-Porque é que não fazes das tuas palavras, as tuas palavras de facto? – Já não o dizia por ela, uma vez que não tinha esperanças de o ter como seu, um dia.

-O que é que disseste?
-Isso mesmo! Tudo o que dizes é correcto, é imensamente sensato e racional. Quando falas pareces sempre tão feliz, tão contente com a vida que levas… Foges da rotina e só queres novidades para ostentar a ideia de que és a aventura em pessoa, que és o risco foi feito pra ti! Mas só fazes isso, só finges, para esconder o que és de facto!
-Não estou a perceber.
-Percebes. E percebes muito bem. Foges do que sentes e começas de novo, nunca deixas que nada siga o seu percurso natural. És sensato e finges agir de acordo com o que sentes. Mas nem sequer és capaz de o mostrar verdadeiramente! Nem de o assumir. Quantas vezes pediste desculpas? Ou quantas vezes disseste a uma rapariga, sem medo do que poderias ouvir, que a amavas?
-Algumas.
-Muitas? – e franziu o sobrolho, incitando a confessar-se.
-Nem por isso.
-E sabes porquê? Porque te recusas a mostrar-te. Preferes dar uma qualquer justificação, virar as costas e tentar esquecer e partir a seguir para uma realidade nova. Só pensas em mudanças despropositadas e encaras tudo o que fica para trás como uma coisa em que não se pode mexer, nem remediar. Tens medo de arriscar ou de perder alguns pontos no teu ego, tens medo de te magoar ou de deixar ficar mal alguém! Mas não percebes que assim só é pior?
-Tu não me percebes!
-Percebo percebo.
-Tu és igualzinha a mim!
-Parecida talvez, mas nunca deixei de tentar lutar por aquilo que me iria fazer feliz.
-Eu não sou assim.
-És és. E sabes bem disso. ”

-Disseste isso ao papá?
-Tive que dizer amor. Senão ele ia acabar por perder todas as pessoas que amava, só por teimosia.
-E depois mamã?
-Depois? (-Depois, ainda bem que eu quando gostava de alguém era mesmo a sério. Ele procurou-me passado umas semanas, no sitio do costume, à hora do costume. E disse num sussurro quase impossível: “amo-te!”. E abraçou-me, para agradecer a espera. “Ainda bem que ficaste.” Mas eu podia não o ter feito.) – Depois princesa, ficou tudo bem.
-Ainda bem que lhe disseste todas essas coisas e que esperaste por ele. Mas, e se tivesses ido embora antes de ele chegar? Não seriam felizes nunca mais?
-Não sei amor. Não sei mesmo.
-Ainda bem que soubeste esperar.
-Ainda bem que o papá me ouviu.
-Ainda bem.

10 de julho de 2009

Desencontros

Porque é que as coisas não podem ser mais simples?

Era tão mais fácil se pudesse chegar, sentar e falar com qualquer pessoa como se a conhecesse há anos! Mas não, as pessoas tinham que ter personalidades tão complicadas! Ganhou-se o hábito de olhar, avaliar e só muito depois comunicar. Quer-se saber detalhes que não interessam a ninguém. Quer-se conhecer toda a gente sem ter de proferir uma única palavra. Acredita-se mais no “diz que disse” no que numa avaliação pessoal e cuidada. Põem-se pessoas de lado apenas porque sim.

Afinal, que mundo é este onde passamos uns pelos outros tantas vezes, frequentamos os mesmos lugares e, no entanto, agimos como se vivêssemos em planetas diferentes?

18 de junho de 2009

Violino

Lembrava-se do dia em que se tinham cruzado pela primeira vez. Do bom dia educado que tinham trocado e dos olhares indiferentes e normais de dois estranhos que se vêm pela primeira vez.

Agora que forçava a memória lembrava-se do vestido vermelho que vestia naquele dia e porque o tinha escolhido. Era o dia do seu concerto a solo de violino. E tinham-lhe dito que um vestido elegante deveria ser o mais adequado para a ocasião. E como não gostava de roupas elegantemente adequadas nem de roupas vermelhas, decidiu que não poderia haver melhor combinação do que aquela que fizera. Seguia as regras dos outros, quebrando uma das suas regras. Mas devia ser ao contrário. Devia fugir das regras que lhe ditavam.
No entanto, seria mais uma vez a rapariga politicamente correcta, como sempre fora.

Tinha-se cruzado com o sujeito, originalmente vestido e penteado. Era bonito e mesmo mentindo, não podia negar que o desejou seu desde o primeiro olhar. Forte e sedutor, opostamente a ela, parecia ignorar a existência de normas.

Mas tinha um concerto e um desconhecido, ainda que apetecível, não podia adiar o compromisso. Não seria correcto.

Enquanto caminhava pelo corredor vazio para o ensaio geral antes da estreia, vislumbrou dois vultos também eles politicamente correctos, a cometerem incorrecções naquele espaço apertado. Invejou-os. A sensatez não os impedia de não serem de vez em quando emotivos. E porque tinha ela que ser sempre a melhor, a mais correcta?

Esqueceu-se do ensaio.
Voltou a trás e atalhou por uma passagem que dava acesso à sala convívio dos actores.

Depois, viu-o. Como arduamente desejava.
Falou-lhe em surdina e saiu com ele até ao seu camarim.

Pediu-lhe que se virasse enquanto ela despia o seu vestido elegante e adequado e iria trocar por um adequado e elegante vestido cinzento, que completaria com um penteado simples e com o seu relógio colorido que não poderia levar ao concerto, por ser colorido e inadequadamente deselegante.

Mas ele não seguia regras, como ela sabia. E ela não só sabia como tinha esperança que não fossem os seus pedidos polidos e educados que o fizessem faltar às suas próprias regras (i) morais.

Depois, ficou ali.
Solitário e espectador.
Num cubículo inadequadamente adequado.
Um violino.

7 de junho de 2009

Spiderweb'

Calmamente, como quem procura um recanto sossegado, a aranha procurava o momento certo para construir a sua teia.
Sabia que o tempo não parava e que tinha um prazo a cumprir, mas ainda assim, ela achava que tinha tempo para tudo o que precisava fazer, quer para a sua construção, quer para a sua felicidade.

Os primeiros passos foram os mais difíceis e requereram-lhe mais tempo. Era preciso ganhar confiança, era preciso que a teia e a sua hábil construtora comungassem dos mesmos ideais e quisessem as mesmas coisas e era preciso que se adequassem ambas ao sítio que partilhavam.

À medida que adquiriu confiança, que estabeleceu laços, que se dedicou, a aranha ia ficando cada dia mais feliz e cada dia mais dependente do seu resultado final, da sua teia.

Depressa compôs as últimas linhas da teia. Estas eram as mais agradáveis de fazer. Unificavam todas as pontas em comum, solidificavam as bases que ela tinha erigido e davam segurança a toda a base, davam segurança a toda a relação. Eram as linhas que lhe colocavam os sorrisos de expressão, que a faziam querer continuar a construir sem nunca parar, sem nunca desistir, mesmo que o cansaço também estivesse presente. Eram aquelas linhas e aqueles momentos que a faziam melhor consigo mesma. Finalmente, o seu trabalho fazia sentido e a sua vida parecia valer a pena.

Porém, havia prazos a cumprir e antes que a pequena e frágil aranha pudesse alcançar o seu ténue sonho, o tempo congelou os seus fios e deitou por baixo todos os planos que ela sabia estar prestes a completar.

Faltavam apenas dois pequenos fios.
Dois pequenos fios que impossibilitaram a ligação de um sonho inteiro.

Se a pequena aranha e a sua teia tivessem antecipado um pouco os seus passos e não tivessem demorado tanto tempo nas primeiras linhas, talvez a teia estivesse agora completa e não estivesse agora o tempo como culpado.

Afinal, eram e são só dois fios por fazer.

Terão eles realmente que fazer a diferença?

AnaCatarina

1 de junho de 2009

I will miss

Irá chegar o dia em que me irei perguntar como foi possível. Como foi possível viver da maneira que vivi, nos lugares e com as companhias que escolhi.
Irá chegar o dia em que pensarei em como foram bons os velhos tempos e como me deixam saudades, de como me recordo de cada sitio, de cada rosto, de cada momento feliz ou simplesmente ridículo, de cada desabafo dito e cada confissão ouvida, de cada conversa cara a cara ou de cada conversa virtual que a convivência não pôde proporcionar, de cada sorriso e de cada despedida por muito curta que fosse, de cada minuto, de cada dia, de cada mês, de cada ano, de cada pessoa, de tudo o que foi realmente especial e que deixa saudades…

Irá chegar (não tarda) o momento em que serão proclamadas palavras bonitas, de promessas de nunca esquecer os que são importantes, de nunca nos afastarmos, de nos encontrarmos e de revivermos o que foi importante. Irá chegar (e sabemos que virá) o momento em que o afastamento será inevitável e teremos de aprender a viver novamente a vida, desta vez num sítio diferente e com pessoas diferentes.

Mais tarde, quando tudo forem apenas memórias e quando proferirmos que já foi há tanto tempo, iremos recordar com carinho cada pessoa, mais ou menos amiga, cada pessoa com quem nos identificávamos bastante ou nem por isso e serão esquecidas as diferenças que nos fizeram criticar, bem como as melhores características que nos fizeram amar e tudo será pensado e repensado com carinho. Iremos arrependermo-nos do tempo que desperdiçámos com coisas sem importância, das pessoas que perdemos por receio de nos perdermos a nós mesmos, dos sentimentos que não vivemos por não saber o que diriam e o que sentiriam quem devia sentir ou dizer.

Depressa passará o tempo e daremos por nós a quebrar as promessas que fizemos aos melhores amigos e daremos por nós a pensar em como tudo foi mudando.

E mais depressa do que eu desejo, teremos que saber despedir-nos de quem foi importante e especial, de quem gostamos demasiado, de quem temos muitas recordações, de quem conversou e compreendeu, de quem se divertiu, de quem sentiu e de quem viveu.

Mas seremos pelo menos sempre jovens nas nossas melhores recordações. Serão as recordações dos melhores amigos de sempre. Até as próprias memorias serão as melhores das melhores. Pois se a separação é inevitável, pelo menos, que as marcas daquilo que fomos, sejam as melhores e sejam para sempre.

9 de maio de 2009

Lx'


The music is high, all the people just dance and drink, you just can’t stop singing and all seems to be so damn right!
Todo o dia foi diferente. As companhias com quem andámos, os caminhos por onde fomos, as ideias que defendemos, as conversas que tivemos, os gestos que fizemos, as músicas que ouvimos, os momentos estranhos e únicos que vivemos…
Todo o dia foi uma novidade, uma boa e diferente novidade.
A noite, tal como o dia, foi também diferente e bem melhor que boa.

Sabes que estás por tua conta, sabes que esta noite vai ser diferente, porque és tu quem está aqui, com estas pessoas, neste lugar…

Sabes que esta noite é única e tu tens a oportunidade de poder mostrar uma parte de ti que nunca ninguém viu. Há quem diga que mudámos. E que seja, que tenhamos talvez mudado, estamos felizes e isso é o que realmente importa.

Dançamos, cantamos, bebemos, gritamos, chocamos, cansamos, rimos, sorrimos, devaneamos, passeamos, conversamos…Tudo faz sentido! Tudo está onde deve estar e nós estamos como devemos estar. Estamos felizes!

Todos aqueles com quem quase não falávamos parecem agora melhores pessoas que pareciam há pouco tempo… Talvez do abraços, dos elogios das circunstâncias, dos gozos, das gargalhadas, das confidências, das sinceridades… Talvez por isso ou talvez não…

It doen’t matter.
While the world keeps going on, the music is high, all the people is dancing and drinking, you just can’t stop singing and screaming and all, all seems to be really right!
AC’ 08-05-09’ 04h58

11 de abril de 2009

Vive o medo



Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu. – Luís Fernando Veríssimo

Vives ou existes?


Quando se vive ama-se sem medo! Declaramos e assumimos com garra e vigor tudo o que sentimos, mostramos aos outros quem realmente somos com esperança de triunfar e deixamos que a vida exista em nós.
Quem vive orgulha-se de si e dos seus feitos, pois bons ou maus são eternamente seus; quem vive sofre, chora, perde quebra, magoa-se, desilude, rejeita, sente a falta… E também sorri, confia, é amado e adorado, completa-se, pula de felicidade e lembra sempre que tudo na vida tem consequências que nos levam sempre a algum lado, ao lado que nós escolhemos.

Quem existe apenas pensa e sonha. Sonha com escolhas que tem medo de fazer na realidade e imagina tudo o que gostaria de viver e não vive com medo de tentar.
As tentativas não implicam o sucesso constante e apenas essa possibilidade nos faz recuar com receio de nos expormos ao mundo para sairmos derrotados.

De que vale a vida se só existirmos?

De que vale o dom da fala se nos calamos na hora de proferir um ‘Amo-te’ , ‘Preciso de ti’ , ‘Desculpa’ , ‘Tenho saudades’ com medo de ser em vão e de não ouvirmos o que ansiamos ouvir?
De que vale poder ver e escutar se tudo o que observamos e ouvimos não é nosso nem é fruto das nossas escolhas?
De que vale o medo e a ansiedade, o carinho e a bondade, a dúvida e a tristeza, a alegria e a certeza, a luta e as decisões, as vitorias e as derrotas, se nunca as pudermos sentir como nossas?

Eu já existi e já vivi. E decidi que prefiro viver, ainda que tenha de viver o medo por vezes.

Mas mesmo assim, com medo ou sem ele, que todas as lutas com vitórias ou derrotas sejam minhas, que todas as decisões mais ou menos importantes sejam por mim tomadas, que todos os sorrisos, desgostos, devaneios e todas as gargalhadas, lágrimas e anseios, sejam autênticas e minhas.

Que o amor seja meu e de quem me ame e viva
Que eu viva o medo e não o esconda
Que eu tente e sofra ou seja feliz
Mas nunca me arrependa de não ter tentado
De não ter vivido
Ou de apenas ter existido.

C’

22 de março de 2009

O momento certo'


Ás vezes não agimos da maneira que gostaríamos a fim de alcançar dados objectivos.
Tudo o que planeámos, que previmos, que desejámos que se passasse de certa forma acaba por não correr do jeito que queríamos... E dizem (há sempre alguém), que talvez não fosse o dia mais oportuno, no local mais conveniente, com os adereços mais favoráveis. Enfim, não era o momento certo!

Mas quando é que é o momento certo afinal?

O momento certo é certo de maneira impulsiva, quando proferimos o que queremos assim que pensamos, no calor da emoção, sem reflexões. Talvez seja o momento mais sentido, mais puro, pois não foi nada planeado. Mas será o mais certo? Sem pensar antes, aquilo que podemos fazer ou dizer, poderá não atingir os objectivos que pretendemos.

O momento certo é certo de maneira sensata, quando pensamos muito bem nas palavras adequadas e nos gestos que vamos utilizar, quando reflectimos sobre o local certo, quando planificamos tudo certo, para que nada possa correr de outra maneira além da que planeámos. Talvez seja o mais sensato, o mais justo e eficaz, o mais certinho e bonito. Mas será o mais certo? Até que ponto a nossa planificação não tirará o brilho ao momento certo?

O momento certo é certo de maneira acertada, quando atingimos as certezas das emoções, as certezas dos objectivos, as certezas dos amores e dos ódios, das finalidades e dos meios... O momento certo é o melhor momento quando é feito de maneira pura e verdadeira.

O melhor momento para se dizer algo importante será sempre quando estivermos certos do que queremos e do que sentimos. Sem demoras ou adiantamentos, sem atrasos ou precipitações, sem chegar tarde de mais ou assustar. O momento certo é aquele que nos leva a um ponto bem mais perto da felicidade. É aquele que se sente no coração e que nos permite alcançar.
Se estamos seguros do que sentimos, então o momento certo será todo o que vier depois das certezas até ao ponto em que deixarmos de agir por receio.

Quem sabe quando é o momento certo para a coisa mais certa?
Eu não sei, mas talvez seja o momento certo para pensar nisso. *

6 de março de 2009

Seriedade


Havia uma escada bonita ali, escondida... Era a escada que ele utilizava quando queria viver a sua vida, quando queria gozar a sua idade e a inocência que esta lhe conferia, quando queria sorrir...

Lá em baixo, onde ele vivia, no meio dos adultos, tudo era sério e ele sabia que não gostava de coisas sérias.

As conversas de adultos eram sérias e por isso ele nunca as podia escutar, as vidas dos adultos eram sérias e por isso ele não as podia atrapalhar, os adultos eram sérios e por isso ele não podia brincar com eles...

Era sempre complicado, dificil e impossível. Mas aqueles olhos verdes e brilhantes não viam assim o mundo. Pra eles era tudo simples e não enetendiam porque toda a gente, principalmente os mais sérios diziam sempre que era difícil, que não podia ser... Todos deixavam escapar as oportunidades porque era complicado tomar certas opções, todos deixavam de ser felizes apenas porque eram demasiado sérios e adultos para se deixarem levar.

Estavam sempre cansados e ocupados para brincar, sempre cansados e ocupados demais para serem felizes e estavam sempre excessivamente sérios.

Mas ele era pequeno e só queria ser feliz! E sabia que podia sê-lo.
Então, subia a escadinha e sonhava.
E sabia que quando fosse grande não seria sério nem diria que não. Saberia viver e dizer sim à felicidade.

AC'

[Um beijinho à Dona Ana que vem aqui ler os textos do blog! Obrigada!]

27 de fevereiro de 2009

Histórias d'Amor

Todos gostaram quando a figura lhe pegou cuidadosamente na mão de dedos finos e delicados e a segurou firmemente, olhando-a nos olhos como se lhe transmitisse uma canção bonita e sentida.

Todos se emocionaram com as palavras doces que ambos trocaram, com a melodia simples de um piano que tocava ao fundo, com os tons harmoniosos que preenchiam o ecrã...

Não se emocionara com os olhos castanhos e com os cabelos finos da actriz nem com os traços bonitos e fortes do rapaz do cinema. Mas quem lá estava ficou feliz!Não por aquilo que apreciaram nas cenas mas pelas recordações que tudo o que viram lhes fez sentir.

Naquelas cenas não eram dois jovens namorados que se passeavam e eram felizes apenas com
palavras e sentimentos, eram os espectadores com os seus passados.

Cada um com os seus amores de Verão, aqueles que tinham vivido nas férias grandes da escola, aqueles que tinha durado apenas meses mas que lhes tinham deixado inúmeras recordações... Promessas de que nunca se iriam esquecer, pequenos encontros que os tinham feito felizes, musicas que tinham ouvido e filmes que não tinham visto juntos, actos sem nexo que na altura haviam feito todo o sentido...

Eram histórias bonitas e sinceras, de amores recordados que reviviam ali, naquele momento, enquanto o piano soava e duas outras pessoas se apaixonavam e eram felizes numa tela.

AC'

19 de fevereiro de 2009

<3

Quando amamos o mundo parece mais fácil. Tudo se torna mais suportável, pois sabemos que não estamos sós, tudo fica mais bonito, tudo fica mais colorido e vivo, tudo parece mais simples e mágico.

Na verdade, aos olhos de quem ama é assim que funciona. Os bons sentimentos que de nós se libertam valem por todos os que nos tentam derrubar e não estamos dispostos a desistir ao mínimo problema, ao mínimo obstáculo e tornamo-nos mais capazes.

Nunca acreditei que amor fosse tudo, mas será sem duvida uma grande parte do caminho para a tão procurada e desejada felicidade. Desde sorrisos parvos a gargalhadas histéricas, desde olhares cúmplices a mãos dadas suavemente, desde carinhos a palavras trocadas secretamente.

Quando se ama o mundo perde o sentido que tinha e passa a ter o sentido que nós lhe damos.

Não nos importamos com o que os outros possam dizer, vivemos as nossas vidas, amamos os nossos amores, aproveitamos os nossos momentos e fazemo-lo à nossa própria maneira.

Porque quem ama não pode prender-se a coisa alguma que não seja o seu próprio coração, que lhe transmite todas as ordens, todos os conselhos, todos caminhos…Porque quem ama não usará palavras vãs nem actos sentimentalistas.

Quem ama ouve-se a si próprio, fala por sorrisos e age com o coração.

Quem ama é feliz e a felicidade é um sentimento rápido.
Assim,
quem ama é feliz
e
quem ama sabe dar valor a cada segundo desse sentimento.

Catarina

18 de fevereiro de 2009

Instantes

As coisas mais bonitas são efémeras. Por exemplo, uma flor nunca permanecerá como foi no momento em que desabrochou e acabará por murchar.

Realmente as coisas que mais nos fazem felizes correm bem mais depressa. A felicidade é mais rápida do que a tristeza. Mas deveria ser ao contrário. Os momentos mais duros deveriam ser do tipo de efeito relâmpago para que não custassem tanto. Mas não são.

Quantas conversas bonitas passaram em menos de 5 minutos? Quantos encontros apenas serviram para escassas palavras? Quantas danças duraram menos que uma música? E ainda assim, valeram por mil sorrisos, mil pulos de alegria, mil brilhos no olhar, e milhões de recordações que guardamos e relembramos vezes sem conta.

Todos esses momentos, todas essas pessoas e todos os sentimentos, por muito curta que tenha sido a sua duração, significam muito mais que dias a fio de momentos normais, de pessoas meramente conhecidas e sentimentos banais.

Mesmo que um momento feliz dure 10 minutos ou 1 hora, para nós será sempre pouco. Por nossa vontade, repetiríamos esses momentos vezes sem conta durante dias sem fim.

Em vez de uma conversa teríamos infinitas conversas que nos deixariam realmente satisfeitos, em vez de jogo teríamos o replay dele até que o decorássemos e em vez de uma dança teríamos um baile inteiro, na mesma coreografia sentida até que soubéssemos toda a letra da música de fundo, todos os toques, os segredos, os suspiros.

Mas nem tudo pode ser como desejamos e por isso teremos que nos contentar muitas vezes com as recordações apenas.

Mesmo assim, todos os sorrisos sinceros e verdadeiramente sentidos, valerão sempre por todos os outros que foram apenas normais.

Valerá sempre mais termos toda a felicidade possível no espaço de um instante e depois relembrá-la e revive-la sempre que assim entendamos.

Catarina'

1 de fevereiro de 2009

Reaprende

No inicio custa. Adaptar é sempre difícil.

Estranhas a falta de claridade, estranhas os poucos rostos conhecidos, estranhas o barulho.
Estranhas os movimentos desconhecidos, estranhas as vozes roucas, estranhas as emoções extasiadas.

“Primeiro estranha-se, depois entranha-se.”

E vives tudo como se tivesses acabado de nascer. Como se dançasses, risses e te divertisses pela primeira vez.
Aprendes tudo de novo.
Os passos, a euforia, as frases sem nexo, as emoções descontroladas, os risos, as expressões de gozo, a confusão, a distracção, a alienação do real…
Tudo te deixa anestesiada. Não assimilas nada no tempo real. Deixas pra depois.
Ouves tudo o que te dizem, aceitas ou declinas, sorris ou franzes o sobrolho, ris ou viras a cara.

Danças e sentas-te. Descansas.
Danças e cantas. Voltas a dançar.
Uma última vez, agora mais calma.

Sorris. Já aprendeste novamente a ser feliz.

Tudo parece tão simples, tão especial, tão feliz, tão teu…
E sim, é de facto tudo simples, especial, feliz e teu.

Depois, ficam as recordações… As tuas, as minhas e as de quem se lembrar.

Catarina*

18 de janeiro de 2009

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" Um homem que quer reger a sua orquestra tem de voltar as costas à plateia." - James Cook

Todas as pessoas, em dados momentos, mais ou menos extensos, são sábias.
Tornam-se esporadicamente vividas, cultas, inteligentes, conselheiras e entre outras coisas de bom gosto, videntes até.
Sabem sempre o que os outros devem fazer ou dizer para resolverem os seus problemas.
São óptimos governadores da vida dos outros. E repito, da vida dos outros.

Há outras pessoas que não são tão bem sucedidas na chefia da vida alheia e que têm sérios problemas assumidos, nas suas proprias vidas.
Não sabem qual o caminho a escolher e não se conseguem decidir com clareza sobre o futuro.

Quando estes dois tipos de pessoas se cruzam há influencias a voar de pensamento para pensamento.

O sábio dá palpites e o indeciso, relutante, aceita-os.
Como não sabe mesmo o que fazer, deixa que decidam por ele a sua vida e pouco a pouco, deixa as decisões para os outros, tornando-se mero espectador do seu próprio espectáculo.

Mas um dia vai acordar e olhar com olhos de ver para o palco.
Vai perguntar-se porque razão não é ele quem dirige aquela orquestra, porque razão aplaude e não é aplaudido e porque admira em vez de ser admirado.

Então, vai esquecer todos os palmites que recebeu em dias confusos.

Vai subir ao palco, afastar o contra-maestro que entretanto se apossara do seu lugar, agradecer os aplausos com uma vénia radiante e com um sorriso secreto e virar as costas à enorme plateia que espera a sua graça.

Depois, vai inspirar e expirar, sorrir para os seus músicos, olhar para o alto como quem procura uma benção e como um pequeno pássaro que voa pela primeira vez, irá deixar-se ir pela força do instinto, pela ocasião, pela vontade e pela emoção que lhe for na alma.

Irá orquestrar a sua vida por si.

De costas voltadas para quem assiste e sugere, e de peito aberto para o que realmente interessa.

AnaCatarina*