16 de junho de 2010

noutro tempo.

São teus todos os suspiros meus, vida minha.

Na verdade tudo o que sou eu, és tu. Porque na verdade, embora livre seja, cativa estou. E cativa sou, de nobre e singela vontade.
O amor que me assomou o peito aprontou-se terno e gentil e sem me dar uma rosa vermelha à socapa, por entre os serviçais, parece que a rosa eu recebi.

Estarei doente? Estarei eu a consumir-me numa febre insustentável?

Pois que seja se assim se chamarem os dias brilhantes.
Pois que seja se assim se considerarem os sorrisos trocados com a lua do mundo que é meu e dele.
Pois que seja se assim se forem, pelo nome de febre, trocados os olhares de sedução amena, de entrega serena, sem resistência pois que o inimigo não fere.

Será eterno o amor? Dizem-me que as estradas onde me perco, sem volta são. E que sejam e que eu me perca e que eu não volte mais.
Que fuja e me deixe cair ao mundo, porque louca sou. E são loucos só aqueles que amam. E se o preço para o meu amor for, não um dote ou o valor de um punhado deles, que seja a minha sanidade.

Será terno o amor?
Será doce o amor?
Será feliz o amor?
Que seja e que não seja e seja eu com ele tudo o que ele for.
Seja ele e eu com ele o amor dos prados vastos e verdes que se estendem no horizonte. Que os olhemos um dia de mãos dadas.

Que seja eu e ele comigo o pôr-do-sol quente e amistoso que se recebe numa tarde ritmada de Verão.
Que o recebamos de sorrisos trocados.


Que sejamos, ele e eu, eu e ele, os vestígios de tempos antigos, sob um manto de reflexão e misticismo.
Que sejamos nós com ele a paisagem melhor escolhida.
Que seja eu e o amor e ele comigo, o calor de uma aldeia perdida e de uma cidade descoberta. Que seja eu com ele toda a vida e tudo aquilo que a vida traz nas suas sacas de alfazema.
Estarei perdida? Dizem que sim. Que quem ama se perde.
Estarei eu louca? Dizem que sim. Que quem ama é louco.
Estarei eu a ser ingénua? Dizem que sim. Que só os ingénuos se deixam levar nas correntes desse ribeiro selvagem.


E eu sei, tudo isto não poderia passar de uma perdição.
E eu que sou louca e ingénua e tenho em mim todos os sonhos do mundo, prostrados no regaço, abraço todas as loucuras, inocentemente. E abraço-as com força, perdidamente.



É amor?
É. Tudo isto é amor.

11 de junho de 2010

O sol à chuva.

É no brilho dos olhos dele que ela, do alto do ser que é, encontra o brilho certo do amanhã. E é depois ao sorrirem num momento sincronizado, que se envolvem, que se prometem, que se confidenciam…




Deu-lhe ela o sol em carta despropositada e ele em resposta mandou o céu regar os jardins do mundo, com pingos de pérolas e saraivas de sonhos. Não havia nem frio nem tempo algum, porque nos instantes todos que têm um do outro, é o tocar de mãos que dita a moda e o sentir.



E ao caminharem, lado a lado, distantes, sabem que é num e noutro que se encontram, como quem se perde e depois desiste e depois ao desistir afinal resiste. É ao viverem o amor num banco de dois, assistindo ao desenrolar da viagem e ao caminhar de todas as ovelhas que ficam na contagem, que os dois, pastores do sol, dos prados e dos céus estrelados, se voltam a apaixonar. Ontem pelo toque, hoje pelo olhar.



E enquanto os poetas escrevem as odes, fazem os amantes as historias delas, vivendo-as para alguém as escrever, sonhando-as para alguém as ler, sentindo-as para nelas ser não o único, mas o maior amor do mundo.



Sabem que amam. Sabem o que é o amor deles. Sabem o que são e o que querem ser e não faltaram à lição sobre a como olhar a dificuldade do amor em 365 dias por ano. Sabem-no e desejam, ainda que pastores, navegadores, exploradores ou conquistadores sejam, testar e provar outra teoria.



Uma teoria em que quando o mundo gira e o par respira num sopro de tempo a tempo, o mundo gira com mais força, em contra-tempo, alternando bateres de coração com pulsares da terra.



Uma teoria em que se comprove cada sentimento de uma caixinha de música presente nos corações próprios de quem ama, desde o azul da ternura ao cinzento do ciúme, passando pelo encarnado do bem-querer e pousando um leve e terno beijo no branco divino da plenitude.


Uma teoria que mostre a verdade dos sentimentos que se aglomeram em torno do sol. Ele que brilha. Não brilha mais do que senão por eles, por eles que se apaixonam. E é por eles também que chora o céu, num misto de inveja e sedução, de ciúme e ilusão.



Uma teoria que deixe claro que são estes amores apaixonados que movem o mundo, de olhos nos olhos. Esquece-se o céu e o sol das leis dos sábios de ontem e entregam-se à mercê do amor. Esse que as montanhas não move nem as estrelas faz cair, mas que faz chorar o céu e ao sol dá motivos para ser, viver e sentir.



É a teoria que comprova a letras grandes e distintas que o amor se ergue difícil no espaço. Leva nele o ser, o beijo e o abraço.



É a teoria que exige o respeito pela ideia de um sol derivado.

Rodopia pelo amor, pelo sério e pelo complicado.



E é nessa teoria em que o céu chove e o sol se apanha desprevenido que se sabe poder provar, que o amor é o acontecimento.
É o sol à chuva num momento.



O amor é isso. É o sol à chuva. Que ao mundo as cores da perfeição. Porque o sol à chuva, resulta nele. No arco-íris da entrega, do sonho, da vida, do mundo e do coração.

2 de junho de 2010

Dançamos.

Faço da minha vida, uma música.
Sem compasso, sem ritmo, sem maestro e repetições. Sem estilo. Sem maneira. Sem adornos desnecessários.



Faz da tua uma dança que baile ao som da minha música. Valsaremos juntos, numa ilusão indefinida, num ritmo descompassado, num sentimento desenfreado que provoca a alma ao limite do poder.

Permites-me, uma dança mais?

Um concilio entre nós, uma união de sentimentos, uma fusão de gestos e palavras. Pensamentos comuns, vidas comuns, ritmos comuns. Danças comuns.

Dançamos?

Ao som dos nossos corações, ao som das suas frenéticas batidas. Ao som do amanhecer, ao som do cair da noite, ao som da vida e do mundo.
Ao nosso som.


Troco o passo. Calco-te. Desajeitamo-nos. Entregamo-nos. Vivemos.
A música silenciosa que nos invade toma posse de nós mesmos. Perdemos o controle.
Dançamos.
A tua dança, com a minha música.

A musica que eu compus e a dança que coreografaste num ápice perfeitamente lírico.

Completas-me.Completo-te.

Embalamos num sonho sem fim, sem personagens e sitio, sem tempo e ruído. Fundo branco. Imaginação.

A minha musica silenciosa foi feita por medida, hoje sei-o. E a dança para ela é aquela, que nos envolve e toma a imaginação, aquela que é tua.
Dançamos a última vez? Sim.
Abraças-me e a tua mão aperta-me contra ti. Consegues ouvir a nossa música?

A intensidade aumenta. A cada passo conjunto que damos, a cada minuto que passa, a musica, o envolvimento, o sentir, a entrega. O prazer de uma dança intensa em sentir, em querer, em coisas que as palavras não explicam mas anseiam...

A última vez?
Sim, por hoje é tudo.

Catarina 22-02-2008