20 de julho de 2010

missing the captain.

Quando bate, bate forte.

As saudades são tremores que vêm desde a ponta dos pés e se prolongam até à mais alta estrela para onde canalizamos os desejos no céu.

Vêm de fora para dentro, vêm de dentro para fora. Entram com os olhares que deitamos às casas pelas janela do carro, entram com os olhares que temos quando recordamos os dias passados, entram como entra o sol pela manhã entre as cortinas e nós tentamos fechar os olhos com mais força para não sentir a claridade.
Ás vezes fazem chorar. Mas é um choro controverso. Se temos saudades é porque houve algo bom para que as tivéssemos. E ter tido algo bom, é bom.

As saudades são espelhos, que nos mostram o que fomos, o que sentimos, o que foi nosso.

As saudades são espasmos cruéis que nos adormecem os músculos e nos deixam ali, vulneráveis à sensação de falta, de alguém, de algum sitio, de um aroma, de um toque.


Ter saudades é perdermo-nos nas recordações quando não podemos viver extasiados e elevados ao auge da adrenalina a fim de ultrapassar os limites das melhores recordações.


Eu hoje perdi-me nas recordações. E perdermo-nos aí é inevitavelmente bater à porta das expectativas de um amanhã. Será melhor? Deixará saudades quando acontecer? Valerá a pena produzir sonhos impecáveis?


As saudades são assim. Inconstantes. Vão e vêm e percorrem todos os socalcos da nossa mente.

18 de julho de 2010

flying river.

"O que é que te fez mudar de ideias tão repente? Quero dizer... é uma mudança um bocado radical."


É verdade. Estou a crescer, talvez.

Outros tempos e eu deixar-me-ia ir como um rio para o mar.

Mas acho que não. Vou ser antes um riacho vadio e rebelde.

Ou vistas as coisas de outro modo talvez seja eu o rio principal.

Como sou a decidir o que escrevo, decido que sou o rio principal. Hoje apetece-me um papel maior.

No inicio o rio é pequeno e frágil.

Corre, corre, corre, corre. Vai e desvia-se porque é frágil e o caminho é tortuoso para os que começam.

E agora, acho que após um desvio, que até desperdiçado nem foi, tenta voltar o rio ao seu caminho, na procura da foz.

É, é isso...

Sou um rio.

Quanto à mudança radical, na verdade, respondo-te eu, escrever é a única coisa que se manteve constante em mim, nos meus gostos e bem quereres. A única coisa com um futuro académico que eu goste de fazer. Sim, bem sei que não sabias desta paixão. E tal como desta, de muitas outras também não.
Gosto de cantar e cozinhar e isso não me daria qualquer sucesso nesta vida.

Sucesso? Eu quero sucesso? Não sei, respondo-me depois de me perguntar.

Quero subir alto e isso eu sei. Não só porque haja alguém que me espera.

É só que é ali, ou lá, no alto que eu quero estar.

Quero ser esse rio que suba e ao invés de desaguar se eleva em altos voos.

Podia ser um caminho de pedras e socalcos então, ao invés de um rio, coerentemente.

Eu insisto, sou um rio que sobe e que quer voar.

Está bem, respondes-me. E sei, sei que estranhas esta certeza que trago no olhar. Não é tua nem de ti.

Bem disse, sou um rio e vou subir. E depois um dia voo, todo o rio, pelos céus.