13 de outubro de 2010

quando uma vem, nunca vem só.

Quando temos saudades de alguém, temos saudades dessa pessoa ou da pessoa que éramos com ela?
Será que sentimos saudades de todas as suas características ou sentimos a falta das características que realçávamos em nós quando estávamos juntas?

Talvez uma coisa leve à outra. Não poderei sentir saudades de alguém sem sentir verdadeiramente a falta da sua pessoa, daquilo que era, do seu sorriso e do seu olhar, da sua voz, da sua simpatia ou da sua falta de paciência, da sua inteligência ou do seu temperamento, da sua exigência ou da sua preocupação sincera, da sua excelência ou do seu virtuosismo. Do mesmo modo também me é impossível admitir que sentir saudades de alguém não me faça sentir saudades de mim... Dos sorrisos e dos olhares brilhantes, dos planos e dos sonhos fantasiosos e mesmo assim para cumprir um dia, dos momentos de êxtase e autenticidade, dos instantes de cumplicidade... Do tempo que se perdeu (mas que não se perdeu de facto, porque nunca se perde tempo com quem é importante!) a tentar retribuir todo o calor sentido, da magia que se sentia na companhia de quem parece ter voado para longe.

Diria até que se possa ter mais saudades de nós mesmos do que saudades dessa pessoa. Podíamos ter apenas saudades nossas e da nossa felicidade na companhia de quem não está. Mas mesmo assim, tudo isso estaria devidamente justificado com a outra pessoa.
Foi quem nos faz falta que nos despertou tudo isso. Foi quem foi que nos fez ser quem fomos.

Não poderíamos sentir saudades de alguém que pelo menos num momento sequer, nos tivesse feito felizes ou orgulhosos, nos tivesse despertado sorrisos, abraços espontâneos ou olhares amorosos.

E se por acaso nós não tivéssemos sentimentos, então a história seria outra. Apenas nos importaríamos com o nosso bem-estar e quereríamos essa pessoa por perto para nos elevar de novo ao topo onde havíamos chegado.

Mas não. Nós somos máquinas sentimentais, com planos e sonhos e outras coisas que nos deixam em patamares no mundo da lua.
E por isso sentimos. E sentimos a falta dos outros.
Pelo que foram. Pelo que nos fizeram ser. Pela beleza que tinham e faziam o nosso mundo ter. Pela música que saía da sua alma, pelos toques suaves e pela calma, pela festa interior que realizavam... E por conseguirem uma partilha bem plena de tudo isso connosco.

Assim as saudades são sempre duplas. Conseguimos sentir saudades de nós e da pessoa que nos levou a alma. Dos nossos sorrisos e dos sorrisos dela. Dos nossos sonhos e dos sonhos dela. Do nosso mundo e do mundo dela e dos dois juntos, quando num só se metamorfoseavam.
É por isso que doem sempre. Dói-nos o nosso peito e o peito do outro.
Dói-nos a nossa e a saudade do outro.
Quando uma saudade vem, nunca vem só. Traz sempre outra, sem sensibilidade nem dó, para se certificar que se uma apenas faz moer, a outra vem, senta-se e fixa-nos, até doer.

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