24 de janeiro de 2011

colecções.

O mundo, em constante vivência, tem a cada segundo mais lutas, mais vitórias, mais perdas e mais surpresas do que possamos imaginar. E em cada luta, lágrimas e gritos que não nos emocionam, em cada vitória, caminhos que não conhecemos, em cada perda, espasmos dolorosos que não vimos e em cada surpresa, reacções das quais não tomámos conta.
Em cada emoção ignorada que fica num canto facilmente percebido da nossa mente, cabem tantas outras que conhecemos de perto… Recordações ou saudades, saudades ou amores, amores ou desilusões, desilusões ou sonhos, sonhos ou abraços, abraços ou sorrisos, sorrisos ou olhares.

Se com uma das mãos tememos todo o escuro do desconhecido, com a outra certamente nos deixamos apaixonar por todas as fracções de universo que nos trazem magia ao mundo.
E há pedacinhos que vamos guardando religiosamente, como quem colecciona ventos do mundo em frascos de vidro que ficam aparentemente vazios, mas que na verdade transbordam de dedicação e contentamento.

 As algibeiras não pesam, que o amor não pesa quando é verdade, que a amizade não pesa quando é pura, que a felicidade tem peso de pluma… E por isso os bolsos vão ficando cheios, sem pesar, e quanto mais cheios ficam, mais espécimes tencionamos coleccionar. Porque é assim que somos, queremos sempre mais daquilo que gostamos. E dificilmente enjoamos das doses preferidas do cardápio que nos é oferecido pelo cosmos.

Na lista de itens que vamos guardando ficam sem qualquer dúvida os sonhos, os momentos de êxtase, de loucura, de ternura suave, de paixão calorosa, de amor verdadeiro, de carinho e de afecto generoso, bem como os que nos cravam as memórias com cicatrizes penosas.

Há quem coleccione pequenos pacotes de açúcar ou selos peculiares, colheres de prata ou elefantes de porcelana, pisa-papéis multiplicados ou frasquinhos de perfume, moedas raras ou canetas simples, cartas de amor ou velas perfumadas.
Mas toda a gente colecciona pedacinhos de vida, bem guardados e etiquetados nos armários secretos e nos compartimentos que permanecem imunes aos olhares banais de quem nos olha sem ver.

Mais do que simples coisas, cada um de nós é um coleccionador de melodias, de amores, de memórias, de amizades, de tristezas, de vitórias, de passos em falso, de quedas, de partilhas, de magia.
E essa colecção própria, única e intransmissível, é sem dúvida a única da qual não somos capazes de abdicar.


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