15 de dezembro de 2010

o culpado.

Em tempos os dias desencadeavam-se como histórias por estrear, com magia e novidade a cada virar de página, com brilhos, lições e sonhos a cada frase lida.
Em tempos os dias tendiam a ser solarengos, independentemente das nuvens cinzentas ou da rotação transtornada de um mundo histérico, alternados em surpresas e em pequenas faíscas que apenas serviam para devolver força e brilho ao conto de fadas.
Em tempos davam-se cartas genuínas e ingénuas em troca de planos, de abraços e sensações de coração cheio, sem se pensar no poder do destino, no destino do mundo e na multidão de acontecimentos que poderiam deitar tudo por terra.

Dizem que o mundo gira e que nós giramos com ele e só porque pensámos um dia ser tão maiores que o mundo isso não nos tornou imunes às voltas que o mundo dá.
E os tempos viram o mundo girar, num remoinho doloroso, arrastando consigo a menina do parque com uma folha de papel por completar na mão, fazendo-a contorcer-se em dores que lhe eliminaram o olhar.
Dizem que tudo acontece por uma razão, que tudo tem o seu tempo certo e que nada acontece por acaso… pois que seja isso tudo a explicação para as voltas que o mundo dá.

Pois que seja o destino, ocasionalmente, a desculpa para as coisas que acabam, o pretexto para os sonhos que não passaram disso mesmo, a explicação para as ilusões vistas com um par de olhos apenas, a justificação para todas as dores que nos atiram inertes e mortiços para um lugar perdido no mundo, deixando-nos nus em nós próprios, como meros reflexos da pessoa que costumávamos ser, da pessoa que podíamos ser.

E se o destino for o tal culpado que se procura que remédio temos senão aprender com ele? Estender-lhe a mão numa dança mais suave, num slow que nunca se chegou a dançar… Ou dar-lhe em voz alta um poema especial acompanhado do sorriso único que cada pessoa tem. Ou ainda abrir-lhe os braços de mansinho, chamando-o para o nosso colo, sentido-lhe a cara com as mãos e respirando todo o seu perfume como se o hoje fosse o ultimo dia.

Se o destino for essa tal razão que faz girar o mundo por esses caminhos baldios… então sejamos nós capazes de morrer e renascer as vezes necessárias, para que nem o caminho fique por percorrer e nem os destinos fiquem por viver.

1 comentário:

  1. Deste-me só, e nada mais, tudo aquilo que eu precisava de ler.
    Obrigada.

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